quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Regresso

Deslocada, exilada
Emigrante de mim
Voltando à terra sinto-a acordada
De um sono longo, letárgico, sem fim...
    (-Quando eu nasci
    Em branda hora de lua
    A minha Mãe, que já não está aqui
    Levou-me ao rio Tua
    e disse: -, é para ti
    Nele lavarás os sonhos
    Minha filha
    Nas suas margens te farás mulher
    Das ilusões constrirás a ilha
    Onde só volta quem o merecer...
    Segui o rio, vim parar ao mar
    Mas fiquei transmontana no falar
    Na claridade da saudade viva
    Na franqueza
    E na lírica, proféctica, atitude
    De me manter fiel à Natureza!)
A ponte ardia em luz
O firmamento escuro
Perdia-se, alastrando pelo mundo
E o povo, tão bonito!
Extasiado
Dava, sem saber
A sua força ao mito
De permanecer:
O mito da raiz
Dos cerros e dos montes
Do olival feliz
Das hortas e das fintes
Das romarias quentes dos sentidos
E outras
Em que corpos e almas são erguidos
Na tradição que encerra
A ancestral beleza desta terra!
    ( -Regresso agora já gasta do esforço
    De uma vivência longa, entretecida
    De netos e de risos
    Alegorias, lutos, solidão
    Ajoelho no chão
    E, comovida
    Retomo essa magia
    Dos loiros anos em que tudo é novo
    E sinto a alegria
    De ser povo
    De pertencer a esta gente boa
    Que luta por um sonho que lhe é caro
    Pois nunca poderá haver Lisboa
    Que valha uma Senhora do Amparo!)

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